
Psicoterapia para médicos:
Cuidando de quem cuida.
Uma pergunta interessante: Quem é você, Doutor, além de médico?
A medicina é, por essência, uma profissão voltada para o cuidado COM O OUTRO. No entanto, não é incomum que médicos negligenciem o CUIDADO DE SI. Rotina extenuante, plantões dobrados, responsabilidade constante e o contato diário com sofrimento humano colocam esses profissionais sob uma pressão que, muitas vezes, passa despercebida até para eles mesmos.
Pesquisas apontam índices preocupantes de burnout, depressão e ansiedade entre médicos, superando, em muitos casos, os da população geral. Ainda assim, por parte de alguns profissionais, permanece uma resistência significativa em buscar apoio psicológico. Seja pelo estigma, pela falta de tempo ou pela crença de que “dar conta sozinho” faz parte da profissão.
O cotidiano médico exige decisões rápidas e precisas, muitas vezes envolvendo questões de vida ou morte. Essa pressão constante, somada à exposição frequente a situações de dor e perda, gera um desgaste emocional profundo. Além disso, a carga horária intensa e o acúmulo de vínculos de trabalho deixam pouco espaço para descanso, lazer e convivência familiar, afetando não apenas a vida pessoal, mas também o desempenho profissional. Soma-se a isso a chamada “cultura da invulnerabilidade”, que reforça a ideia de que admitir fragilidade é um sinal de fraqueza, quando na verdade representa maturidade e consciência de si.
A psicoterapia, nesse contexto, oferece um espaço seguro, sigiloso e acolhedor, onde o médico pode falar livremente sobre suas angústias, dúvidas e dificuldades, sem medo de julgamento. Entre os benefícios mais significativos estão a redução do estresse e a prevenção do burnout, o aprimoramento da regulação emocional diante de situações críticas, o fortalecimento de recursos internos para lidar com frustrações e limitações da prática médica, e a ampliação da consciência sobre o próprio corpo e mente, contribuindo para a prevenção de adoecimentos psíquicos. Além disso, o processo terapêutico pode melhorar a qualidade das relações interpessoais, tanto no ambiente profissional quanto na vida pessoal.
Como psicólogo com experiência no atendimento a médicos e outros profissionais da saúde, compreendo as especificidades e exigências dessa rotina. Sei que o ambiente hospitalar, a sobrecarga de plantões e o peso da responsabilidade profissional muitas vezes deixam pouco espaço para que esses profissionais cuidem de si.
Cuidar da saúde mental não é luxo, tampouco sinal de fragilidade. É, antes de tudo, um ato de responsabilidade, que impacta diretamente na capacidade de cuidar do outro. Quando o médico se permite olhar para si e buscar apoio, fortalece não apenas a si mesmo, mas também a qualidade do cuidado que oferece aos seus pacientes, e resgata algo de si que, eventualmente, está esquecido aguardando ser revelado.
Breno Silveira Mendes - Psicólogo
CRP MG 04/54939