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O que é Complexo de Édipo

          “Complexo de Édipo” é um termo criado pelo pai da Psicanálise, Sigmund Freud, para designar o conjunto de afetos humanos relacionados ao que este autor vem a denominar como “romance familiar”, sendo O Édipo constitutivo e presente em todos os seres humanos, em diferentes culturas, fazendo parte da história fundamental da subjetivação humana.

          A tragédia (gênero literário) “Édipo rei” foi escrita pelo dramaturgo grego Sófocles (497 – 406 a. C), através da reunião de diversos elementos que já se encontravam disseminados na cultura grega.

         

          Para falarmos brevemente sobre o Mito de Édipo, começaremos contando a história de seu pai, Laios, que em dado momento seduz, sequestra e abusa de Crisipo, filho de Pélope, que o abrigara e cuidara de Laios enquanto jovem, que por ter cometido este crime recebe do oráculo a previsão, de uma maldição lançada sobre si dizendo, que caso ele se casasse e tivesse filhos, seu filho o mataria e desposaria sua esposa. Em uma noite em que Laios se encontrava embriagado (Sobre o efeito de Dioniso), ele se deita com sua esposa, Jocasta, engravidando-a; de forma que, quando nasce o bebe, ainda não nomeado, Laios fura-lhe os pés, e manda que um empregado o abandone na floresta, entregue à própria sorte. Édipo é encontrado por um pastor, que o resgata, e é entregue ao casal Mélope e Ipólibo, sendo criado como filho desses, não tendo conhecimento de sua condição de filho adotivo. Em dado momento Édipo escuta rumores de que fora adotado, e questionando-se sobre sua origem decide consultar o oráculo, onde escuta a terrível profecia de que “mataria seu pai e desposaria sua mãe”. A fim de evitar o cumprimento de tal profecia, Édipo decide deixar a cidade em que vivia, saindo da casa de seus pais em direção a Tebas, sua terra natal, e no caminho, em algo que poderíamos chamar de uma “briga de trânsito”, Édipo tem uma discussão com um homem e sua comitiva, ao passarem por determinada travessia, onde Édipo acaba por matar o homem líder dessa comitiva, sem saber que este era Laios, seu pai.

          Continuando em seu caminho, Édipo se depara com a terrível esfinge, um monstro mitológico que possuía asas de pássaro, corpo de leão e cabeça de mulher, que cruza seu caminho com a fala “Decifra-me ou te devoro”, onde a esfinge propõe a Édipo o seguinte enigma “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?”, semelhante ao atual “O que é o que é”. Édipo consegue responder ao enigma da esfinge, sendo tal criatura “O homem” (o humano), que na infância engatinha com dois braços e duas pernas, na vida adulta caminha sobre suas duas pernas, e que a noite, na velhice, anda com o apoio de uma bengala além das pernas. Por ter derrotado a esfinge, Édipo recebe Jocasta (sua mãe) como esposa, e tem com ela quatro filhos, sem ter conhecimento de tal situação até então.

          Tempos depois, a peste cai sobre Tebas, e Édipo inicia uma investigação para saber os motivos da peste que assolava sua cidade. Foi-lhe dito que tal peste caíra sobre Tebas pelo fato de que alguém naquele lugar teria cometido um crime terrível, onde teria matado o próprio pai e desposado a mãe. Jocasta tenta dissuadi-lo de prosseguir com essa investigação, entretanto Édipo persiste, e descobre que fora ele próprio quem cometera tal crime.

          Ao descobrir tal situação, Jocasta, consumida pela culpa, se mata enforcada, e Édipo fura os próprios olhos, a fim de se punir pelo seu pecado, percebendo depois que, agora cego, consegue ver as leis divinas que não via quando outrora enxergava.

         

          De forma resumida e simplificada, Freud utiliza-se dos elementos presentes no mito do herói Édipo para falar sobre a história da subjetivação humana, que se inicia com os primeiros objetos de amor de uma criança, que usualmente são seus pais ou cuidadores. A criança chega como um terceiro na relação, e no caso do menino, na fase fálica do desenvolvimento, começa a rivalizar com o pai pelo amor da mãe, mantendo sentimentos ambivalentes, em relação a este pai. De forma direta, Freud propõe que o menino deseja matar o pai e ter a mãe inteiramente para si como objeto de amor, e tais sentimentos estão nas origens da humanidade.

          Do ponto de vista Psicanalítico o oráculo pode ser tomado como o inconsciente, onde se abrigam as pulsões primitivas, desejos inconscientes e outros. Também o percurso analítico é semelhante ao que se passa na tragédia de Édipo, uma dinâmica entre o saber e o não saber, o conhecer, o decifrar dos próprios enigmas, e tentar produzir algo a partir deste lugar, lidando com as escolhas, a repetição de comportamentos, e os pontos desconhecidos dos nossos desejos, como essa dimensão humana que é impossível abandoná-la, e que pode levar o indivíduo a sucumbir caso esteja em desmedida com seu desejo.

          No contexto da análise, o analista faz o papel de esfinge, mostrando aquilo que há de enigmático, na própria constituição e discurso do sujeito, sugerindo a este o encontro consigo, de seus processos, localizando-se na sua fala, nos seus chistes, sonhos, atos falhos,  através de seu próprio discurso.

          O complexo de Édipo pode ser visto por nós atualmente como uma narrativa, proposta às crianças para explicar o pulsional, comprometendo-se com o recalcamento para estabelecer como o sujeito deve desejar, quais são os limites e as formas de lidar com seus desejos, a renunciar ao primeiros objetos de amor para um desenvolvimento saudável.

          A Psicanálise considera como um dos elementos centrais da formação do psiquismo e da subjetivação humana a forma como cada um de nós lida com o complexo de Édipo, tendo diversos desdobramentos. A partir daí, nossas escolhas amorosas, profissionais, bem como a forma como lidamos com diversas questões e demais relações em nossas vidas vão guardar relação com essa dinâmica e a forma como encaramos o mundo.

Breno Silveira Mendes - Psicólogo

CRP - 04/54939

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